sexta-feira, 8 de julho de 2011

Na estação.

Ih, inflamou. Agora não tem mais jeito. Ou tem? Prende a respiração. Tem, não tem, tem, não tem, tem, não tem. Tem? Não tem. Vou procurar um médico. Não é doença, é um acidente. Eu poderia dizer assassinato, mas a decepção tá mais pra um acidente mesmo. Foi um acidente dos grandes mas só houve uma vítima. Eu. Daí ficou essa cicatriz enorme aqui no coração, e não sei, ultimamente tá coçando e acho que inflamou. Tá doendo bastante também. Ah sim, a culpa do acidente foi minha. Não sei de que jeito, a culpa fica sempre toda pra mim. Eu já tô meio debilitado ainda mais agora nesse processo de inflamação e essa culpa é meio pesada demais. Vou mandar mamãe comprar biotônico fontoura. Eu te vi ontem. Você tava bem lá, naquele mesmo degrau. Quando eu reparei em você, você desviou o olhar rapidamente e fingiu estar procurando alguma coisa no celular (provavelmente a sua vergonha, que você deve ter convertido em mp3). Mas deu pra concluir que você esteve pensando em mim esses dias. Você pensa, não pensa? Então, mesmo com a sua cabeça baixa eu acenei pro seu cabelo castanho escuro e quando eu virei as costas senti seu olhar na minha nuca e me virei de repente. Daí entrou um senhor na minha frente, acho que era o tal de um senhor orgulho, muito velhinho tadinho mas com uma força que só você vendo pra acreditar. Ficou me dizendo um monte de coisas, inclusive que se eu me atrevesse a ir falar com você ele iria embora e nunca mais voltaria. E eu com isso? Já conhecia ele de outras vidas mas a verdade é que ele tem um jeito todo autoritário que me incomoda. Dei um empurrão nele, e quando fui atrás de você, não te vi. Quer dizer, te vi, mas você tava brigando com aquele seu velho amigo arrependimento. Odiei você. Custa dar um aperto de mão no rapaz e  pedir desculpas e continuarem a amizade em paz? Mas não. Você tava lá chacoalhando os braços e cutucando seu piercing na orelha de vez em quando como sempre fazia quando tava bravo. Quer saber? Percebi que ainda ia demorar um bom tempo pra vocês se entenderem e eu que não ia ficar responsável por fazer as coisas se acertarem entre vocês. Isso é tarefa sua, só sua. Cresce. Daí começou a chover bem forte e eu tive que me mexer. Mesmo assim me molhei e não achei ruim. Na verdade até andei um pouco com a cara pra cima pra molhar bem o rosto e as pessoas confundirem minhas lágrimas com água da chuva. Sentei no degrau. Não o seu degrau, eu digo outro degrau. Bem longe de você, bem escondido, só pra ficar pensando. Nessa hora o sr. orgulho voltou com uma cara de "o que eu faço com você, bernardo?" e acendeu dois cigarros. Um pra ele e um pra mim. Ficamos fumando e eu pedi desculpas pela fraqueza e prometi nunca mais empurrar ele daquele jeito. Acho que engoli um pouco de água junto com os tragos do cigarro. Tudo se misturou e caiu no meu coração e é por isso que tá inflamado. Não porque eu te vi e quase fui falar com você, imagine. Não. Não mesmo.

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