sexta-feira, 22 de julho de 2011

Pilulazinhas de lembrar amor

Preguiça de ir buscar água. Preguiça ou  indisposição. Acho que são coisas diferentes, não são? Porque na verdade não é preguiça, preguiça... só não estou disposto a sair daqui. Nem pra buscar água.  Fiz uma cabana e tô aqui desde... não consigo me lembrar... mas finge que é desde sempre. De qualquer jeito tô aqui faz um tempão. Me sinto seguro. Eu sou um coração e a cabana me protege. Lá fora tem todas essas essas pessoas doentes que ficam falando do amor, do amor, do amor. Que é amor? Tá todo mundo rebolando por aí como se o amor fosse algo que te deixa feliz. Essa é boa. Não, essa é das melhores mesmo. Esses senhores só podem estar brincando comigo. Na verdade, veja bem, você tem que escolher. Ou você quer ser feliz, ou você quer encontrar o amor. Não dá pra ter os dois juntos, não. O amor é lindo, mas fode um pouco com seu coração. Por isso eu escolhi ficar aqui nessa cabana por um tempo. Sou ruim nisso de escolher ser feliz, não sei identificar  quando tô caindo na besteira. Sei que vai demorar um tempo ainda, é meio escuro aqui e de vez em quando me dá umas crises de solidão. Daí eu acendo uma esperança e leio, às vezes ouço música, às vezes fico olhando pro nada, deitado no chão com a cara pra cima e cantando duck sauce da barbra streisand. Ah, sim. Lembrei. Tô aqui desde que eu descobri que você guardou pra sempre aquela foto da gente comendo tic-tac de laranja. Cara, como saí torto nessa foto e não sei porque você amou e guardou. Vai ver porque você era todo torto mesmo. Torto por dentro. Você sempre foi viciado por essas balinhas né? Isso era tão você. Acho que nunca mais vou come-las depois disso. No final das contas, acabo preferindo a água. Limpa e sem lembranças nenhuma de nós. Pra que eu vou querer comer um monte dessas pilulazinhas de lembrar amor?  Je vous remercie, mon cher, mais vaut mieux pas. E além do mais, aqui na minha cabana drogas não são permitidas.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Na estação.

Ih, inflamou. Agora não tem mais jeito. Ou tem? Prende a respiração. Tem, não tem, tem, não tem, tem, não tem. Tem? Não tem. Vou procurar um médico. Não é doença, é um acidente. Eu poderia dizer assassinato, mas a decepção tá mais pra um acidente mesmo. Foi um acidente dos grandes mas só houve uma vítima. Eu. Daí ficou essa cicatriz enorme aqui no coração, e não sei, ultimamente tá coçando e acho que inflamou. Tá doendo bastante também. Ah sim, a culpa do acidente foi minha. Não sei de que jeito, a culpa fica sempre toda pra mim. Eu já tô meio debilitado ainda mais agora nesse processo de inflamação e essa culpa é meio pesada demais. Vou mandar mamãe comprar biotônico fontoura. Eu te vi ontem. Você tava bem lá, naquele mesmo degrau. Quando eu reparei em você, você desviou o olhar rapidamente e fingiu estar procurando alguma coisa no celular (provavelmente a sua vergonha, que você deve ter convertido em mp3). Mas deu pra concluir que você esteve pensando em mim esses dias. Você pensa, não pensa? Então, mesmo com a sua cabeça baixa eu acenei pro seu cabelo castanho escuro e quando eu virei as costas senti seu olhar na minha nuca e me virei de repente. Daí entrou um senhor na minha frente, acho que era o tal de um senhor orgulho, muito velhinho tadinho mas com uma força que só você vendo pra acreditar. Ficou me dizendo um monte de coisas, inclusive que se eu me atrevesse a ir falar com você ele iria embora e nunca mais voltaria. E eu com isso? Já conhecia ele de outras vidas mas a verdade é que ele tem um jeito todo autoritário que me incomoda. Dei um empurrão nele, e quando fui atrás de você, não te vi. Quer dizer, te vi, mas você tava brigando com aquele seu velho amigo arrependimento. Odiei você. Custa dar um aperto de mão no rapaz e  pedir desculpas e continuarem a amizade em paz? Mas não. Você tava lá chacoalhando os braços e cutucando seu piercing na orelha de vez em quando como sempre fazia quando tava bravo. Quer saber? Percebi que ainda ia demorar um bom tempo pra vocês se entenderem e eu que não ia ficar responsável por fazer as coisas se acertarem entre vocês. Isso é tarefa sua, só sua. Cresce. Daí começou a chover bem forte e eu tive que me mexer. Mesmo assim me molhei e não achei ruim. Na verdade até andei um pouco com a cara pra cima pra molhar bem o rosto e as pessoas confundirem minhas lágrimas com água da chuva. Sentei no degrau. Não o seu degrau, eu digo outro degrau. Bem longe de você, bem escondido, só pra ficar pensando. Nessa hora o sr. orgulho voltou com uma cara de "o que eu faço com você, bernardo?" e acendeu dois cigarros. Um pra ele e um pra mim. Ficamos fumando e eu pedi desculpas pela fraqueza e prometi nunca mais empurrar ele daquele jeito. Acho que engoli um pouco de água junto com os tragos do cigarro. Tudo se misturou e caiu no meu coração e é por isso que tá inflamado. Não porque eu te vi e quase fui falar com você, imagine. Não. Não mesmo.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Da próxima vez vou pra Paris.

De vez em quando eu pego meu suéter, visto do avesso por debaixo da capa, calço minhas galochas e uso aquele guarda-chuva azul pra dar uma volta no passado. São muitas lágrimas. Passo pelo meu e-mail e releio coisas que eu costumava te mandar e que você costumava me mandar também. Frases, fotos, textos, músicas. Nós sempre fomos muito maduros durante todo nosso relacionamento e tínhamos ótimas discussões de relacionamento por e-mail. Para outros casais isso devesse dar errado, mas com a gente funcionava muito bem. E aí, todas as nossas brigas (por e-mail, telefone ou pessoalmente) sempre acabavam com palavras doces e sentimentos de alívio. Quando termino de reler esses e-mails eu sinto tudo, menos alívio. A dor de saber a intensidade do nosso amor, ou do que eu pensava que era nosso, me machuca. Me magoa. Me deixa pra baixo. Devo comprar galochas mais resistentes, essas mal aguentam uns soluços de nada... Eu não devia falar isso, mas ainda tenho todos os bilhetinhos que você me escrevia em guardanapos de papael, sempre que a gente almoçava junto naquele restaurante perto do seu trabalho. Qualquer dia vou queimar todos, um por um, numa espécie de sacrifício por renascimento. Por enquanto apenas deixo eles molhados, gota por gota. Uma volta pela casa e fotos perdidas. Lembrei daqueles dias na praça, nossos quase-sexo com os carros passando e enxergando tudo que nós fazíamos. Lembrei dos nossos abraços e nossa obsessão conjunta por chiclete de canela. Vou precisar de uma capa de chuva mais resistente também... Fico impressionado como mesmo após tanto tempo as coisas continuam vivas. Não vivas de um jeito "uau". Vivas de um jeito que eu acho que jamais vou esquecer. O problema em fazer esses passeios pelo passado é que eu sempre acabo voltando semi-morto da viagem. E também é muito caro, sabe. Daí eu não tenho forças nem pra comer. Fico só ali, na minha cama olhando pro teto e interrogando tudo e nada ao mesmo tempo...

  © Blogger template Brooklyn by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP