quarta-feira, 27 de abril de 2011

Hoje não, mas ano que vem, certeza.

O que eu mas gosto em dias frios é que você usa sempre aquele seu suéter azul. Parece que só tem ele ou é presente de avó. Acho que você nunca me falou da sua avó, mas ela deve ser do tipo que faria um suéter azul de lã pra você, embora sua mãe seja do tipo contrário. Queria saber se ela ainda está com aquela mania de colecionar etiquetas de marcas. Ela sua mãe, não sua avó. "Eu tiro porque pinica, mas guardo todas". Seu suéter azul não tem etiqueta, e aposto que foi sua mãe quem tirou. Eu sei bem disso porque no dia que você me emprestou o moletom do seu irmão, estavas usando seu suéter ao contrário e como Alanis em All I Really Want eu lhe disse:

"Que apropriado".

Eu amo seu suéter azul, mais do que o moletom do seu irmão que eu só amo um pouco porque é a ultima lembrança que tenho de você. Seu irmão entrou de tabela na história. Talvez o dia em que eu te ver denovo você esteja usando o suéter outra vez, e esteja rindo daquele jeito que eu amo. Quando você ri você fecha os olhos e suas bochechas ficam meio vermelhinhas, e quando acaba de rir fica meio sem graça por ver que eu estivera o tempo todo observando admirando seu riso. Olha pro chão. No dia em que  você vier aqui em casa como nos velhos tempos vou te oferecer um café e perguntar se quer casar comigo. Você me dirá "hoje não, mas ano que vem, certeza" e este será o tempo perfeito para eu preparar todos detalhes e tecer eu mesmo, um novo suéter de lã pra você.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Só mais um dia

Entre notas fiscais e rescisões para calcular, tem um coração incomum ali jogado e bolando de um lado para o outro. Ninguém liga, ninguém vê. Ou finge que não liga e finge que não vê.

O telefone toca, mostro simpatia. Todo mundo só vai deixar pra vir declarar o imposto no ultimo dia, e vai fazer fila e eu espero que eu esteja menos pior do que agora porque eles sempre querem passar umas horas conversando comigo sobre os assuntos da tv. 

-Eu não vejo tv.
-Mas todo mundo vê tv.
-Menos eu.
-Por que?
-Por que o quê?
-Por que não vê tv, ué?
-Sem paciência.
-Comerciais demais?
-Tekpix demais.

Não sei qual vai ser a tragédia da vez, mas se eu pudesse escolher seria um holocausto no metrô. Comigo dentro, claro. Telefone toca denovo, preciso me concentrar. Mostro simpatia. Daqui a pouco começa a chegar gente. Vai no banheiro, limpa o espelho. Sorri. Não sorri. Sorri. Sorri. Não sorri. Não preciso ser simpático, apenas educado. Trabalhar dói. Vou grampear meu coração de volta, mas só quando você já estiver bem fora dele.

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